Para Guy Kawasaki, trabalhar para Jobs era estar em constante medo. Mesmo assim, o executivo diz que não trocaria seu antigo emprego por nada.
O ex-evangelista chefe da Apple, Guy
Kawasaki, resumiu dez lições que aprendeu de Steve Jobs durante a sua
apresentação na CeBIT 2015, que aconteceu no início da última semana.
“Ele era uma pessoa fantástica – uma pessoa difícil de se trabalhar,
muito exigente. Todas as grandes práticas de RH que você já aprendeu sobre
reuniões com seus funcionários e desenvolvimento de metas e ajudar as pessoas a
alcançar seus objetivos - Steve não fez nada disso", disse ele à plateia.
Kawasaki trabalhou em duas ocasiões na Apple. Inicialmente na área de
Marketing na Macintosh em 1984 antes de retornar em 1995. Ele admitiu que viveu
sob absoluto medo de Steve Jobs.
"Ele não hesitava em dizer para as pessoas, em frente de um
departamento inteiro, o quão estúpidas e sem senso algum elas eram e eu morria
de medo disso. Dito isso, eu não trocaria o meu trabalho para Steve Jobs por
nada”, ressaltou.
Atualmente, Kawasaki é chefe evangelista da
startup Canva, com base em Sydney.
Abaixo, dez lições que ele aprendeu enquanto
trabalhava para Steve Jobs.
1. Aprenda a
ignorar opositores
"Se você é um inovador, você é
revolucionário e você vai precisar construir uma grande companhia de
tecnologia. Para isso, você precisa ignorar seus opositores”, diz Kawasaki.
Essas são as pessoas pessimistas que dizem
coisas como “não é possível” e “não deveria ser feito”.
“Muitas pessoas disseram isso a Apple quando nós
criamos o Macintosh. Muitas pessoas disseram isso quando criamos as Apple
Stores”, completou.
2. Clientes
não podem te dizer o que eles precisam
Em meados dos anos 1980, consumidores disseram à
Apple que queriam um Apple II maior, mais rápido e mais barato. Kawasaki
acredita que a Apple teria ‘morrido’ se tivesse desenvolvido uma segunda
geração para o Apple II.
“Grandes inovações acontecem quando você não
escuta os seus clientes – quando você usa a sua paixão, sua visão, insight e
você cria o que você acredita que eles precisam, ou o que eles ainda vão
precisar ou aquilo que você consiga convencer que eles precisam. Foi isso que
Steve fez”, disse o executivo.
3. Inovação
acontece na próxima curva
“Se você está no mercado de máquinas de
escrever, isso não se trata de fazer melhores máquinas. Se você é uma companhia
de impressão de cartas, não é sobre aumentar o número de fontes ou caracteres”,
disse Kawasaki.
Trata-se de dar o salto para a próxima curva da
inovação. Ele usou o exemplo do outrora próspero setor de "colheita de
gelo”, nos Estados Unidos.
“Durante os meses de inverno, pessoas iam até
lagos congelados com suas serras e cavalos para cortar blocos de gelo. Nos anos
de 1900, toneladas de gelo eram coletadas assim", lembra.
Kawasaki batizou isso de Gelo 1.0. Há cerca de
30 anos, durante o Gelo 2.0, fábricas congelavam água, um grande avanço
tecnológico porque a partir de então, gelo poderia ser produzido em qualquer
lugar e a qualquer hora do ano.
“Nenhuma das empresas que colhiam gelo se
tornaram fábricas de gelo e nenhuma fábrica de gelo se tornou empresas de
refrigeração porque a maioria das companhias começaram na curva e morreram na
mesma curva. Isso porque elas definem os seus negócios como aquilo que elas
atualmente fazem”.
4. O design
importa
“O computador da Apple é um grande sucesso por
conta de seu design”, disse ele antes de descrever que o MacBook Air se parece
com um grande sólido bloco de alumínio esculpido por monges tibetanos. “Isso é
uma obra de arte. O design importa”.
5. A
democratização é uma coisa boa
Quando toda poeira se acalma, a Apple é um
negócio que diz respeito à democratização da tecnologia, defendeu Kawasaki.
Ele lembra que durante os primórdios do PC,
pessoas precisavam ir até suas universidades, uma empresa ou ainda o
departamento do governo para usar um computador.
“A Apple mudou tudo isso. Democratização é uma
grande coisa, é isso que a Apple defende. Quando a IBM se juntou ao mercado de
computadores pessoais, a Apple deu às boas-vindas”, disse.
6. Menos é
mais
Kawasaki comparou um típico slide de PowerPoint
feito por Steve Jobs que mostrava apenas um amplo gráfico e apenas sete
palavras em letras grandes com um slide de Bill Gates. Neste, um texto confuso
e uma grande imagem.
“Em design, em apresentações, em tudo que você
comunica, menos é mais”, ele disse. Para ele, o número ideal de slides de uma
apresentação não deve ultrapassar dez.
7. Mudar seu
pensamento é um sinal de inteligência
Em 2007, Steve Jobs introduziu o iPhone e disse:
“Nossa abordagem inovadora utiliza padrões de Web 2.0 que permite que
desenvolvedores criem novas e maravilhosas aplicações, enquanto mantém o iPhone
seguro e confiável”.
Kawasaki traduziu isso como Jobs dizendo que não
haveria aplicativos standalone para o iPhone – se desenvolvedores quisessem
criar um app para o telefone, era necessário ser um plug-in para Safari.
Um ano se passou e a Apple emitiu um comunicado
à imprensa dizendo que iria mostrar plataformas de desenvolvimento do Mac OS X
Leopard e iPhone OS X em sua conferência mundial de desenvolvedores.
“Um ano depois, ele disse ‘nós estamos abrindo o
iPhone, agora vocês podem criar aplicativos', invertendo completamente o que
ele tinha dito ou pensava”, disse Kawasaki.
“Isso fazia parte da genialidade de Jobs. Quando
ele descobria que estava errado, ele não hesitava em mudar suas ideias. Isso
demanda muita coragem e poder intelectual e ele fazia isso”, completa.
8. Valor não
é a mesma coisa que preço
Valor é o impacto total de um computador, o
impacto total de software – não é somente um preço de compra, é suporte,
serviço, checagem de vírus e treinamento.
“Ninguém nunca comprou nada da Apple porque era
a opção mais econômica. A Apple vende conectores por 30 dólares quando custam
50 centavos para serem feitos”.
9. Um jogador
de elite contrata jogadores de elite
Kawasaki aconselhou empreendedores e CEOS com
boas noções de engenharia a contratarem vendedores, funcionários em marketing e
finanças que “são melhores que você”.
“Todos que você contratar devem ser melhores que
você, incluindo o VP de engenharia e seu CTO”, aconselhou.
10. Crie algo
de valor e único
Criar um produto ou um serviço que seja valioso
e único é a mensagem mais importante da publicidade, diz Kawasaki.
“É
onde a Apple fez dinheiro e história”, diz.
Como exemplo de um produto único e valioso, ele
citou a empresa de relógios Breitling. Ela vende um relógio que manda sinais do
usuário que podem ser transmitidos para serviços de emergência quando se
encontram em perigo.
“Se você é um viajante, marinheiro ou um
esquiador, você talvez se perca, ficar sozinho e morrer. Esse relógio pode
salvar a sua vida”, disse.